Viviam-se tempos eminentemente pragmáticos, em
Kinshasa. Do sistema de partido único de Mobutu, por exemplo, decalcava-se a bronzeada
blindagem da invulnerabilidade. Acerca de Verckys lê-se o seguinte em “Rumba on
the River”: “Audaz e ambicioso, com uma ideia de si próprio que excluía a noção
de fracasso, ninguém teve um impacto assim tão grande na indústria musical do
período.” Gary Stewart, autor dessa enciclopédia da música popular dos dois
congos publicada em 2000, não faz por menos. No capítulo em que toma nota das
movimentações que acompanharam a alvorada da década de 70, de uma
arregimentação sem precedentes, o nome do saxofonista, compositor, chefe de
orquestra, editor e produtor praticamente salta a cada página. Conta-se o seu
estágio de seis anos na OK Jazz, de Franco, relata-se a sua emancipação, em
abril de 1969, quando se estreia no emblemático Vis-à-Vis com a recém-fundada
Orchestre Vévé, e identifica-se a sua mão por trás do êxito das orquestras Bella
Bella, Empire Bakuba, Lipua Lipua, Kiam ou Zaïko Langa Langa. Em junho de 1972,
sete dos dez discos mais vendidos no Zaire traziam a sua assinatura. Em 1974,
logo após o combate entre Ali e Foreman, a revista “Likembe” fazia capa com uma
fotografia que exalava suor: Verckys e James Brown atuando em conjunto. Curiosamente
tamanha glória jamais se transferiu para a era do CD, ainda que, aqui, a Analog
Africa nem colija sucessos, consagrando-se antes à reunião de raridades. O
retrato é extravagante e essencial e aquilo que à primeira vista é ridículo
parece inevitável à segunda, alegoria para toda a música que há no mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário