Chegou
a ter lançamento previsto noutra editora, esta integral da obra para piano e
quarteto de cordas. Mas, por vicissitudes várias, o seu volume inaugural apareceu
na Toccata na exata semana em que a Capriccio colocou no mercado um CD de Artur
Pizarro com ponto de partida nas “Nove Danças Breves” e que, sempre de Fernando
Lopes-Graça (1906-94), a Naxos publicou a obra completa para violino e piano e
violino solo interpretada por Bruno Monteiro e João Paulo Santos. O que só
prova que, de facto, não há fome que não dê em fartura ou que, no que toca a
Portugal, enquanto o diabo esfrega um olho se passa da disforia à euforia. Seja
como for, seria grotesca a evocação de tão contrastantes estados de espírito se
os mesmos não se provassem indispensáveis ao entendimento desta música. Em
“Canto de Amor e de Morte”, a obra que reúne Prats ao quarteto e em que, já
agora, sentada ao piano do compositor, a pianista toca visionariamente como se
fosse possível detetar o primado da utopia onde ela a todo o custo permanece
oculta, muito daquilo que se ouve dá mostras de resultar de uma infinita
solidão, procedendo de um período de visceral ambiguidade em que, por vezes, a
relação de Lopes-Graça com as suas criações lembra o gesto da mãe que sufoca os
filhos de tanto os apertar. No “Quarteto de Cordas Nº 1” e na “Suíte Rústica Nº
2”, Luís Pacheco Cunha, Anne Victorino d’Almeida, Isabel Pimentel e Catherine
Strynckx transferem-se para um folclore da imaginação, consanguíneo ao dos
modalismos regionais, primeiro, e inçado, depois, pelos ecos de uma insurreição
que se supunha à escala mundial.
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