7 de fevereiro de 2015

Kenny Barron/Dave Holland “The Art of Conversation” (Impulse!, 2014)



Na conclusão de “Conversation: A History of a Declining Art” (Yale University Press, 2006), o ensaísta Stephen Miller alertava para o facto de se estarem a popularizar mecanismos que pareciam concebidos para anular o próprio potencial de conversação em sociedade: “Hoje, não só podemos ficar a ver talk shows na televisão o dia inteiro como, através dos nossos telefones ou de outros dispositivos portáteis, nos é possível assistir a vídeos e usar videojogos a qualquer hora, em qualquer lugar.” Como um áugure, terminava: “Em março de 2005 o Washington Post publicou um artigo intitulado ‘Como maximizar o seu iPod’, que começava assim: ‘O iPod já é o seu melhor amigo’.” Dez anos depois, num momento em que, restringindo-se apenas aos mais expressivos exemplos na categoria, o artigo para redes sociais da Wikipedia lista cerca de 200 entradas, tomar-se-ia cada um dos seus argumentos como um anacrónico escrito de um ludita. Aliás, relanceá-los agora gera o mesmo tipo de desconforto que se experimenta ao imaginar alguém a descobrir música nova no MySpace ou algo que o valha. Mas, no entanto, de tempo em tempo ganha tração aquela ideia tão em voga no século passado de que não há efetivamente qualquer hipótese de se conversar; quanto muito, na célebre formulação de Rebecca West, há “monólogos que se intersetam”. Kenny Barron e Dave Holland, como bons adversários do solipsismo que são, têm dedicado a vida inteira a desacreditar tal juízo. Aliás, de La Rochefoucauld a Schopenhauer, este “The Art of Conversation” rejeita, até, os mais desencantados e repetidos aforismos na matéria. Aqui, todo o engenho é empregue no disfarce da técnica. Entre originais (os de Barron, como ‘The Only One’ ou ‘Seascape’, remontando a gravações de início dos anos 90 para a Reservoir; os de Holland, como ‘The Oracle’ ou ‘In Your Arms’, procedendo de “Extensions” ou “Homecoming”), inéditos (de Barron, ‘Rain’, uma daquelas baladas cujo verniz é da cor do segredo; de Holland, uma elegíaca e autoexplicativa ‘Waltz for Wheeler’) e visitas ao cânone (‘In Walked Bud’, de Monk, ou ‘Daydream’, de Strayhorn e Ellington), pianista e contrabaixista resumem em compêndio todo o charme, o estilo, o cuidado e o conhecimento que se concentram nesta combinação. Mas também a intimidade, a consolação, a consideração e a empatia neste capítulo doméstico anteriormente postuladas pelas duplas Bill Evans e Eddie Gómez, Paul Bley e Gary Peacock, Roland Hanna e George Mraz ou Kenny Drew e Niels-Henning Orsted Pedersen.

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