Na conclusão de “Conversation: A History
of a Declining Art” (Yale University Press, 2006), o ensaísta Stephen Miller
alertava para o facto de se estarem a popularizar mecanismos que pareciam
concebidos para anular o próprio potencial de conversação em sociedade: “Hoje,
não só podemos ficar a ver talk shows
na televisão o dia inteiro como, através dos nossos telefones ou de outros
dispositivos portáteis, nos é possível assistir a vídeos e usar videojogos a
qualquer hora, em qualquer lugar.” Como um áugure, terminava: “Em março de 2005
o Washington Post publicou um artigo intitulado ‘Como maximizar o seu iPod’,
que começava assim: ‘O iPod já é o seu melhor amigo’.” Dez anos depois, num
momento em que, restringindo-se apenas aos mais expressivos exemplos na
categoria, o artigo para redes sociais da Wikipedia lista cerca de 200
entradas, tomar-se-ia cada um dos seus argumentos como um anacrónico escrito de
um ludita. Aliás, relanceá-los agora gera o mesmo tipo de desconforto que se
experimenta ao imaginar alguém a descobrir música nova no MySpace ou algo que o
valha. Mas, no entanto, de tempo em tempo ganha tração aquela ideia tão em voga
no século passado de que não há efetivamente qualquer hipótese de se conversar;
quanto muito, na célebre formulação de Rebecca West, há “monólogos que se
intersetam”. Kenny Barron e Dave Holland, como bons adversários do solipsismo
que são, têm dedicado a vida inteira a desacreditar tal juízo. Aliás, de La Rochefoucauld a Schopenhauer, este
“The Art of Conversation” rejeita, até, os mais desencantados e repetidos
aforismos na matéria. Aqui, todo o
engenho é empregue no disfarce da técnica. Entre originais (os de Barron, como
‘The Only One’ ou ‘Seascape’, remontando a gravações de início dos anos 90 para
a Reservoir; os de Holland, como ‘The Oracle’ ou ‘In Your Arms’, procedendo de
“Extensions” ou “Homecoming”), inéditos (de Barron, ‘Rain’, uma daquelas
baladas cujo verniz é da cor do segredo; de Holland, uma elegíaca e
autoexplicativa ‘Waltz for Wheeler’) e visitas ao cânone (‘In Walked Bud’, de
Monk, ou ‘Daydream’, de Strayhorn e Ellington), pianista e contrabaixista
resumem em compêndio todo o charme, o estilo, o cuidado e o conhecimento que se
concentram nesta combinação. Mas também a intimidade, a consolação, a
consideração e a empatia neste capítulo doméstico anteriormente postuladas
pelas duplas Bill Evans e Eddie Gómez, Paul Bley e Gary Peacock, Roland
Hanna e George Mraz ou Kenny Drew e Niels-Henning Orsted Pedersen.
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