Concerto Italiano, Rinaldo Alessandrini (d)
Realizado
por Claudio Rufa, o documentário “L'umano e il suo divino” – nesta edição em
DVD – abre com planos suspensos na arquitetura renascentista de Mântua,
sobretudo a do Palácio Ducal dos Gonzaga, até que se fixa nas costas de
Alessandrini, de cabeça tonsurada, errando como um monge pelas ruas que
conduzem à Igreja de Santa Bárbara. Perdido nos caminhos da fé, é um primeiro
momento de eminente simbolismo pois trata de um distanciamento que se produz
por si mesmo. O que leva o maestro ao endereço em que Claudio Monteverdi se
empregou é esta reconstituição de um ofício litúrgico consagrado a São Marcos,
largamente imaginado e com perversa sede em Veneza, num posterior posto do
compositor. Pensado para promover uma dramatização do espaço acústico, o
inquérito ao sublime passa por uma investigação à hipotética ressonância do
local de devoção, sabendo Alessandrini que Monteverdi tinha um interesse estrutural
em esculpir uma determinada energia, em apresentar uma retórica idealista cuja
identificação do estilo certo muito diz acerca da correção deste disco. Passando
por obras da “Antologia Moral e Espiritual”, como o “Magnificat”, os trombones
dão aqui voz ao veludo e os cornetos, menos protocolares que o costume, são uma
etérea decantação das húmidas subjetividades do canto humano. Mais à frente no
DVD, Francesco Antinucci, diretor no Instituto de Ciência e Tecnologia da
Cognição, cozinha a partir do livro de receitas de Bartolomeo Scappi, o chefe do
ascético Papa Pio V. É uma segunda ocasião emblemática no filme pois mais não
diz que o sucesso do pato recheado com ameixa, por exemplo, depende de
especulações análogas às de Alessandrini: no fundo, tudo o que o permita aproximar-se
daquelas possibilidades essenciais de que se diria ser a sua própria existência
a separá-lo.
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