Em 40 páginas de depoimentos, lembranças
e indiscrições, esqueceram-se os organizadores desta edição de explicar a cronologia
exata destas 16 seleções, que não a que vagamente as situa na semana de 6 de
dezembro de 1977, de recordar outras passagens de Garland no Keystone Korner,
nomeadamente aquela que também nesse ano – embora procedendo de uma sessão de
março – resultou no lançamento de “Keystones!” pela Xanadu, e que já então
testemunhava uma galvânica relação com Jones e Vinnegar, ou, até, de mencionar
que, em 1983, 14 meses antes de falecer, no mesmo clube de São Francisco, como
aconteceu com Bill Evans, registou o pianista a sua discreta “last recording”. Ao
invés, o enfoque é colocado na ‘vida e obra’, como se o material agora reunido
tivesse origem na mão-cheia de anos, entre finais da década de 50 e inícios da
de 60, em que tudo o que em sonhos tocava aparecia num LP da Prestige, já para
não falar da sua essencial contribuição para as mais gerundiais produções de
Miles Davis – as de “Cookin’”, “Steamin’” e “Workin’” – em que patenteou uma
orquestral conceção do piano, harmonicamente densa mas jamais desprovida de
leveza, não especialmente veloz mas ainda assim capaz de antecipar as mil e uma
maneiras de resolver um problema musical, e em que improvisava de modo tão
prodigioso que parecia criar peças autónomas e simultaneamente tão absurdo que
excluía qualquer hipótese de premeditação. Aqui, ressurgindo após uma longa
travessia do deserto, revelava-se intacta a sua técnica e infinita a sua
imaginação.
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