Em ‘The Lives of Many Others’, o
tema titular do seu disco a solo na Clean Feed, a eslovena Kaja Draksler começa
a tocar piano de dentro para fora. Primeiro, com sensibilidade de bate-chapas, e
como quem encontra o jardim de John Cage coberto de ferrugem, cria uma ode ao
aço. Depois, chegando às teclas como uma criança que não dá cavaco às regras, traz
à memória a melodia através da qual, em “The Köln Concert”, Keith Jarrett se deixou
transportar até ao século XII de Beatriz de Dia. É uma síntese única de duas
tradições assente na hilária capacidade do jazz em desarmar convenções. Mas,
também, a expressão de uma crucial ambiguidade que concilia o primado
instrumental que auxilia a ação com aqueloutro que só ampara o pensamento.
Inserida na 13ª Festa do Jazz do São Luiz, toca dia 29, às 18h20, no
Teatro-Estúdio Mário Viegas, e representa perfeitamente o peculiar didatismo de
que se reveste o certame. Nesse espírito, pelas tardes de sábado e domingo, com
entrada livre, promovem-se o habitual concurso de escolas de música e masterclasses com Leo Genovese e Tony
Malaby. Destaquem-se ainda atuações de Ensemble Super Moderne (28, 21h30, na Sala
Principal do teatro lisboeta), octeto de João Guimarães (29, 16h00,
Teatro-Estúdio) ou Deux Maisons (29, 17h10, Teatro-Estúdio) e sublinhe-se a
atenção que André Santos, Desidério Lázaro ou Afonso Pais estão individualmente
a prestar ao formato canção.
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