Tudo parece estar sob um transe
profundo e em permanente trânsito. “Sou dono do meu destino”, já cantava Moraes
Moreira em ‘Transe o Trânsito’. E menos não reivindica esta assembleia,
convocada em Agosto de 2013 pelo Festival de Jazz de Chicago, com o
cinquentenário da AACM no horizonte – chega em maio. Aliás, em “A Power
Stronger Than Itself”, o livro que lhe consagrou, George Lewis lembra um artigo
em que Muhal declarava que a Associação era “a prova que os desfavorecidos e os
desprivilegiados se podem juntar e definir as suas próprias estratégias para a
obtenção de liberdade política e económica, tornando-se dessa maneira responsáveis
pelos seus próprios destinos”. Trata-se, então, aqui, da celebração da potência
autonómica da arte a que Malraux aludia com o seu “museu imaginário”, ainda que
num contexto que traz antes à memória uma frase de Gertrude Bell: “Os homens
santos sentaram-se numa atmosfera a tresandar a antiguidade, tão espessa com o
pó dos tempos que através de si nada se via”. Mas se pela cabeça de Bell nunca
passou que estátuas por si achadas – e há 3000 anos parcialmente destruídas por
campanhas assírias no atual Iraque – viriam a ganhar nova vida graças a
impressoras 3D, o mesmo não se pode dizer de alguém, como Mitchell, que, com o
Art Ensemble of Chicago, esculpia a “Great Black Music: Ancient To The Future”.
Ou de DeJohnette, que dá forma aos vultos que pelos sonhos vagueiam. Talvez por
tudo isso, em ‘Museum of Time’, este CD invoca Jane Roberts, a escritora que
escreveu: “Sei, agora, e sem sombra de dúvida, que passado, presente e futuro
não existem”.
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