7 de março de 2015

Jack DeJohnette “Made in Chicago” (ECM, 2015)



Tudo parece estar sob um transe profundo e em permanente trânsito. “Sou dono do meu destino”, já cantava Moraes Moreira em ‘Transe o Trânsito’. E menos não reivindica esta assembleia, convocada em Agosto de 2013 pelo Festival de Jazz de Chicago, com o cinquentenário da AACM no horizonte – chega em maio. Aliás, em “A Power Stronger Than Itself”, o livro que lhe consagrou, George Lewis lembra um artigo em que Muhal declarava que a Associação era “a prova que os desfavorecidos e os desprivilegiados se podem juntar e definir as suas próprias estratégias para a obtenção de liberdade política e económica, tornando-se dessa maneira responsáveis pelos seus próprios destinos”. Trata-se, então, aqui, da celebração da potência autonómica da arte a que Malraux aludia com o seu “museu imaginário”, ainda que num contexto que traz antes à memória uma frase de Gertrude Bell: “Os homens santos sentaram-se numa atmosfera a tresandar a antiguidade, tão espessa com o pó dos tempos que através de si nada se via”. Mas se pela cabeça de Bell nunca passou que estátuas por si achadas – e há 3000 anos parcialmente destruídas por campanhas assírias no atual Iraque – viriam a ganhar nova vida graças a impressoras 3D, o mesmo não se pode dizer de alguém, como Mitchell, que, com o Art Ensemble of Chicago, esculpia a “Great Black Music: Ancient To The Future”. Ou de DeJohnette, que dá forma aos vultos que pelos sonhos vagueiam. Talvez por tudo isso, em ‘Museum of Time’, este CD invoca Jane Roberts, a escritora que escreveu: “Sei, agora, e sem sombra de dúvida, que passado, presente e futuro não existem”.

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