Foi no outono passado lançada, pela
Trost, uma presumível primeira gravação deste trio de Alexander von
Schlippenbach, Evan Parker e Paul Lovens, captada em abril de 1972, e seria
curioso colocá-la a tocar conjuntamente com esta do novo “Features”, de
dezembro de 2013, a alguém que permanecesse ignorante da história do grupo para
ver qual das duas lhe pareceria mais recente. Talvez aquela em que pianista,
saxofonista e baterista subissem ao palco para dar mostras de tocar tudo o que
sabiam. Ou uma em que a teatralização da potência transformadora do jazz se
mantivesse mais importante que a sua contínua desdramatização. Iludir-se-ia em
qualquer um dos casos. Pois, aqui, acima de tudo, o que se percebe é que o trio
chegou a uma extraordinária posição de elegância e serenidade precisamente
depois de ter percorrido com inquietação e ocasional rudeza os problemas
essenciais que a existência dessa mesma posição implica. Ou seja, que pacifica
de modo excecional uma ineludível questão: como conviver, no contexto da música
improvisada, com o caráter normativo de uma ação que se prolonga há mais de 40
anos. Um ponto de partida possível, que estes 15 temas procuram ilustrar (e, de
‘Feature 1’ a ‘Feature 15’, eles são uma espécie de enumeração do que possui esta
prática de mais característico), será a tomada de consciência de que o
crescimento ilimitado é insustentável. Sim, há momentos, em “Features”, em que
tudo é propulsivo e percussivo mas também há instantes em que aparenta falir
cada uma das partes de que esse organismo se constitui; há alturas em que se
removem as últimas estruturas permanentes do jazz e outras em que se aplicam
testes de esforço às suas fundações; há uma sensibilidade a um tempo
imprevidente e escrupulosa, espontânea e imitativa. Há a ética de uma música
sincera que, quando se deixa trair, serve para comprovar a dificuldade em
produzir música sincera.
Sem comentários:
Enviar um comentário