28 de março de 2015

Alexander Von Schlippenbach Trio “Features” (Intakt, 2015)



Foi no outono passado lançada, pela Trost, uma presumível primeira gravação deste trio de Alexander von Schlippenbach, Evan Parker e Paul Lovens, captada em abril de 1972, e seria curioso colocá-la a tocar conjuntamente com esta do novo “Features”, de dezembro de 2013, a alguém que permanecesse ignorante da história do grupo para ver qual das duas lhe pareceria mais recente. Talvez aquela em que pianista, saxofonista e baterista subissem ao palco para dar mostras de tocar tudo o que sabiam. Ou uma em que a teatralização da potência transformadora do jazz se mantivesse mais importante que a sua contínua desdramatização. Iludir-se-ia em qualquer um dos casos. Pois, aqui, acima de tudo, o que se percebe é que o trio chegou a uma extraordinária posição de elegância e serenidade precisamente depois de ter percorrido com inquietação e ocasional rudeza os problemas essenciais que a existência dessa mesma posição implica. Ou seja, que pacifica de modo excecional uma ineludível questão: como conviver, no contexto da música improvisada, com o caráter normativo de uma ação que se prolonga há mais de 40 anos. Um ponto de partida possível, que estes 15 temas procuram ilustrar (e, de ‘Feature 1’ a ‘Feature 15’, eles são uma espécie de enumeração do que possui esta prática de mais característico), será a tomada de consciência de que o crescimento ilimitado é insustentável. Sim, há momentos, em “Features”, em que tudo é propulsivo e percussivo mas também há instantes em que aparenta falir cada uma das partes de que esse organismo se constitui; há alturas em que se removem as últimas estruturas permanentes do jazz e outras em que se aplicam testes de esforço às suas fundações; há uma sensibilidade a um tempo imprevidente e escrupulosa, espontânea e imitativa. Há a ética de uma música sincera que, quando se deixa trair, serve para comprovar a dificuldade em produzir música sincera.

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