Em
abril de 1915, quando morreu, eram tantos a querer dele se despedir que, no
cemitério, se tiveram de impor oficialmente limites à admissão dos enlutados. 100
anos depois, quando de Scriabin pouco mais se lembra do que a forma peculiar em
que racionou a tonalidade, é pela publicação da “Obra Completa”, na Decca, que
se aguarda, em particular pelas seis dezenas de primeiras gravações às mãos de Vladimir
Ashkenazy e Valentina Lisitsa que essa coleção em 18 CD presumivelmente contém.
Entretanto, há outras movimentações de nota em torno do excêntrico universo do
compositor: a BIS lançou o “Concerto para Piano em Fá sustenido menor”, na
interpretação de Yevgeny Sudbin, e a Hyperion reeditou antologias de Piers Lane
consagradas aos seus “Prelúdios” e “Estudos” e colocou no mercado uma integral
dos “Poemas” pelo norte-americano Garrick Ohlsson. Também a Bayard foi aos
arquivos resgatar este importante registo, originalmente produzido pela
parisiense Studio SM, em 1997, e através do qual se apresentou a primeira
versão completa do opúsculo 52 (“Três Peças”, de 1906) e se estreou “Tombeau de
Scriabine”, de Manfred Kelkel, um prelúdio construído pelo musicólogo em torno
dos esboços de “L’Acte Préalable”, parte do inacabado “Mysterium”, projetado para
uma apocalíptica récita no sopé dos Himalaias que, entre outras coisas, através
de “orquestra, coro misto, efeitos visuais, bailarinos, uma procissão e incensos”,
teria como fim definitivo nada mais, nada menos, do que o Armagedão. Como
poucos, Jean-Pierre Armengaud sabe que tudo isto são símbolos voláteis, e
talvez por isso tenha decidido regravar um trio de peças, aqui incluídas, entre
as quais se destaca a inexorável “Para a Chama” (o Op. 72, de 1914). Como
sempre, com Scriabin, cruzam-se volúpia e volubilidade, desenha-se um dédalo a
cada compasso e, como os sonhos, o seu fascínio é inversamente proporcional à
sua explicação.
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