14 de março de 2015

Scriabin: Œuvres Mystiques Pour Piano (Bayard, 2015)



Em abril de 1915, quando morreu, eram tantos a querer dele se despedir que, no cemitério, se tiveram de impor oficialmente limites à admissão dos enlutados. 100 anos depois, quando de Scriabin pouco mais se lembra do que a forma peculiar em que racionou a tonalidade, é pela publicação da “Obra Completa”, na Decca, que se aguarda, em particular pelas seis dezenas de primeiras gravações às mãos de Vladimir Ashkenazy e Valentina Lisitsa que essa coleção em 18 CD presumivelmente contém. Entretanto, há outras movimentações de nota em torno do excêntrico universo do compositor: a BIS lançou o “Concerto para Piano em Fá sustenido menor”, na interpretação de Yevgeny Sudbin, e a Hyperion reeditou antologias de Piers Lane consagradas aos seus “Prelúdios” e “Estudos” e colocou no mercado uma integral dos “Poemas” pelo norte-americano Garrick Ohlsson. Também a Bayard foi aos arquivos resgatar este importante registo, originalmente produzido pela parisiense Studio SM, em 1997, e através do qual se apresentou a primeira versão completa do opúsculo 52 (“Três Peças”, de 1906) e se estreou “Tombeau de Scriabine”, de Manfred Kelkel, um prelúdio construído pelo musicólogo em torno dos esboços de “L’Acte Préalable”, parte do inacabado “Mysterium”, projetado para uma apocalíptica récita no sopé dos Himalaias que, entre outras coisas, através de “orquestra, coro misto, efeitos visuais, bailarinos, uma procissão e incensos”, teria como fim definitivo nada mais, nada menos, do que o Armagedão. Como poucos, Jean-Pierre Armengaud sabe que tudo isto são símbolos voláteis, e talvez por isso tenha decidido regravar um trio de peças, aqui incluídas, entre as quais se destaca a inexorável “Para a Chama” (o Op. 72, de 1914). Como sempre, com Scriabin, cruzam-se volúpia e volubilidade, desenha-se um dédalo a cada compasso e, como os sonhos, o seu fascínio é inversamente proporcional à sua explicação.

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