23 de maio de 2015

Bassekou Kouyaté & Ngoni Ba “Ba Power” (Glitterbeat, 2015)



Na zona de Tombuctu, o ataque a uma coluna militar do exército maliano por um grupo separatista tuaregue resulta em oito mortos. Já em Hamdallahi, militantes jiadistas destroem um mausoléu selecionado para a candidatura a Património da Humanidade. Em Gao, Kidal e Bamako, atentados terroristas de afiliados da Al-Qaeda fazem vítimas entre civis e agentes ao serviço das Nações Unidas. Isto apenas nas últimas semanas. Neste contexto, outra coisa não pode Bassekou Kouyaté fazer senão servir de exemplo. Ele que, há coisa de dois anos, em entrevista ao Expresso, dizia que a solução para os problemas do Mali eram os músicos que a tinham. “Nós, que somos como um país à parte, andamos a falar nisto há séculos”, afirmava, referindo-se a algo que, agora, em ‘Abe Sumaya’, sintetiza assim: “Mali/ Onde vive o islão e a tolerância// Tínhamos ouvido falar de guerras no exterior, mas não conhecíamos conflitos/ Por isso, homens, mulheres, jovens e velhos, deem as mãos em sinal de unidade”. Talvez por essa razão, como quem sugere que é sempre possível chegar-se a um entendimento mesmo quando quase nada se possui em comum, goze este “Ba Power” de uma lista de convidados que se assemelha à de uma cimeira internacional. Nessa perspetiva, presume-se que nomes como os de Jon Hassell, Chris Brokaw e Dave Smith tenham chegado pela mão de Chris Eckman, o diretor artístico da Glitterbeat, que, por sinal, toca hoje em Alcobaça e faz atualmente por músicos africanos o que, quando vivia na Calçada da Estrela, tentou um dia fazer pelos Raindogs. Se o disco resulta ainda há esperança para os acordos de paz.

Sem comentários:

Enviar um comentário