Olha-se para o alinhamento deste CD e nem é preciso ouvir
uma nota para se perceber que algo está mal: detetam-se ‘Die Moritat von Mackie
Messer’ (de “Die Dreigroschenoper”) e ‘Alabama Song’ (de “Mahagonny-Songspiel”),
extraídas ao período em que Kurt Weill ainda não vestia o fato do exílio. Ou
seja, se é verdade que toda a gente vem de algum lugar, também não é mentira
nenhuma que um projeto que se dedica às ligações entre Weill e o seu destino
final deveria ter em conta que, já a viver nos EUA, nada o enfurecia mais do
que aí encontrar um compatriota que lhe dirigisse a palavra em alemão. Isto, vindo
do ingénuo que não foi a correr para casa fazer as malas após um encontrão na
rua com membros das Sturmabteilungen. Já alguém com um sentido mais sionista da
história, como Meyer Weisgal, olhava do lado de lá do Atlântico para a ascensão
dos nazis ao poder e corria para o telégrafo a enviar mensagens como: “Para Max
Reinhardt, Europa. Se Hitler não te quer, eu fico contigo”. Também por seu
intermédio rumaria Weill para a América. E, como se sabe, apesar de a parodiar,
via Brecht, tinha sido com a América na cabeça que o compositor havia escrito a
sua música mais gulosa. Conceda-se, uma América que tudo deve ao sonho. A de
Walt Whitman, por exemplo, cujos poemas musicou numa fase de envolvimento com o
esforço de guerra aliado. Dispensando as partituras de Weill, sem explicar
porquê, também aqui Hülsmann visita Whitman. Não é muito importante, pois Bleckmann
canta a alegria do antes, a mágoa do depois e as estrelas em que Weill
definitivamente se perdeu quando há 65 anos se foi.
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