Num
livro editado nos anos 50, o ator e encenador Jean-Louis Barrault, um empregador
inicial seu, dizia algo com que Pierre Boulez se poderia identificar: “Na
realidade, as coisas mais difíceis de fazer bem são as mais simples. Ler, por
exemplo. Ser capaz de ler exatamente tudo tal como está escrito, sem omitir
nada do que está escrito ou acrescentar-lhe seja o que for.” Mais do que isso não
pedia o maestro, quando, na mesma altura, em Paris, sob o incentivo de Souvtchinsky,
do casal Barrault-Madeleine Renaud e o patrocínio de Mme. Tézenas, e recrutando
instrumentistas entre as várias orquestras espalhadas pela cidade, fundou a
associação “Domaine musical” para permitir ao público interessado essa coisa extraordinária
de ouvir música do seu tempo tal como nesse exato momento estivesse a ser
escrita. Promoveu inúmeras estreias: de Stockhausen, Berio, Nono, Maderna,
Pousseur, Ligeti, Henze ou, até, de Messiaen (no caso, os prodigiosos “Sept
Haïkaï”, aqui incluídos). Mas fez, também, justiça aos compositores da Segunda
Escola de Viena e ao Stravinsky coevo, historicamente ausentes dos programas de
concerto franceses. Alguns recitais – em que pela assistência se apertavam
Staël, Michaux, Char, Wou-Ki, Moravia, Jouve, Masson, Ernst, de Mandiargues ou
Vieira da Silva – foram gravados e lançados pela Vega, depois reeditados pela
Adès e, finalmente, em 2006, pela Accord. É esse material que este volume agora
reúne, lembrando que o domínio da música se constrói com um pouco de
independência e intimidade, com muito engenho, alguma ingenuidade e, até, com
as canções que não se cantam.
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