Burroughs
escreveu que “a música árabe não tem princípio nem fim”. Que “é intemporal”, e,
que, “ouvida pela primeira vez, pode não fazer grande sentido para um ocidental.”
Mais à frente no texto, após espirais de frases que introduzem centopeias na
cabeça de quem as lê, agoirava assim: “Em Tânger, nada é bem o que parece.”
Extraída de “Interzone”, dir-se-ia uma proposição feita à medida deste “Tangier
Sessions”, que, por sinal, até conta com um ‘International Zone’ no seu
alinhamento. Isto, porque também o novo disco de Sir Richard Bishop, gravado na
cidade marroquina em junho do ano passado, aparenta ser uma coisa para, logo,
se revelar outra. No fundo, não andará longe da verdade quem afirmar que, em
‘Hadija’ ou ‘Bound in Morocco’, faz com a música árabe o que a ilustração
caligráfica na sua capa faz com a escrita: um ato de ilusão que acaba por
reforçar traços autorais precisamente à medida que os vai tentando disfarçar.
Afinal, virando o disco e ouvindo o primeiro tema do lado b, ‘Mirage’, podia o globo
ter igualmente rodado e estarmos agora na ilha de Tânger, no estado
norte-americano da Virgínia. É que o assunto, aqui, não são as escalas do maqam nem as essências da maconha. Na
realidade, como é comum em álbuns a solo de guitarristas, o meio é a mensagem.
E a Drag City fez um pequeno vídeo em que Bishop conta como a sua nova guitarra
lhe foi parar às mãos, transferindo o lendário cruzamento de Clarksdale, no
Mississípi, para uma viela de Genebra em que deu com um homem de bata branca ao
balcão de uma loja de instrumentos usados. Arre, o diabo assume mesmo muitas
formas.
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