15 de agosto de 2015

Charles Lloyd “Wild Man Dance” (Blue Note, 2015) & Sokratis Sinopoulos Quartet “Eight Winds” (ECM, 2015)


A Charles Lloyd, que tem responsabilidades na matéria, é costume colar-se a colónia barata das fórmulas gastas. E, escorrendo da pena daqueles que durante anos a fio o imaginaram de pernas cruzadas a meditar sobre o futuro da espécie, cada novo gesto seu gera um sem número de platitudes. Por exemplo, fala-se agora generalizadamente de um “regresso à Blue Note”, como se a fortuita edição de “A Night in Copenhagen” (1985) não tivesse correspondido a um volucre estágio na biografia do saxofonista. Pior, deste vertiginoso “Wild Man Dance”, que logo traz à memória os seus voláteis discos na Atlantic e, até, a sua perfumada parceria com Gábor Szabó, cedo se disse que refletia “qualidades espirituais e ascetas da cátedra de Lloyd na ECM” (Thom Jurek, no Allmusic), como se a sua solicitação ao dogma não fosse por natureza multívoca. Pois a verdade é que esta suíte de seis andamentos – para um renovado quarteto (Lloyd, com Gerald Clayton ao piano, Joe Sanders no contrabaixo e Gerald Cleaver à bateria) e dois coloristas da estirpe de Sokratis Sinopoulos (na lira cretense) e Miklós Lukács (em címbalo magiar) – não parece servir tanto para ilustrar ideias indiscutíveis quanto para criticar a própria conceção do multiculturalismo. Aliás, como escreveu Amin Maalouf por ocasião de outro encontro entre sensibilidades do ocidente e do oriente (operado esse por Jordi Savall), mais que “um diálogo entre culturas, teremos forçosamente de caminhar no sentido de um diálogo entre almas”. Sabe-o Lloyd e não o ignora o grego Sinopoulos neste seu brando manifesto contra a desagregação do humanismo.

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