A Charles
Lloyd, que tem responsabilidades na matéria, é costume colar-se a colónia
barata das fórmulas gastas. E, escorrendo da pena daqueles que durante anos a
fio o imaginaram de pernas cruzadas a meditar sobre o futuro da espécie, cada
novo gesto seu gera um sem número de platitudes. Por exemplo, fala-se agora generalizadamente
de um “regresso à Blue Note”, como se a fortuita edição de “A Night in
Copenhagen” (1985) não tivesse correspondido a um volucre estágio na biografia
do saxofonista. Pior, deste vertiginoso “Wild Man Dance”, que logo traz à
memória os seus voláteis discos na Atlantic e, até, a sua perfumada parceria
com Gábor Szabó, cedo se disse que refletia “qualidades espirituais e ascetas
da cátedra de Lloyd na ECM” (Thom Jurek, no Allmusic), como se a sua
solicitação ao dogma não fosse por natureza multívoca. Pois a verdade é que
esta suíte de seis andamentos – para um renovado quarteto (Lloyd, com Gerald
Clayton ao piano, Joe Sanders no contrabaixo e Gerald Cleaver à bateria) e dois
coloristas da estirpe de Sokratis Sinopoulos (na lira cretense) e Miklós Lukács (em címbalo magiar) – não parece servir tanto para ilustrar
ideias indiscutíveis quanto para criticar a própria conceção do
multiculturalismo. Aliás, como escreveu Amin Maalouf por ocasião de outro
encontro entre sensibilidades do ocidente e do oriente (operado esse por Jordi
Savall), mais que “um diálogo entre culturas, teremos forçosamente de caminhar no
sentido de um diálogo entre almas”. Sabe-o Lloyd e não o ignora o grego
Sinopoulos neste seu brando manifesto contra a desagregação do humanismo.
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