Lembrava
“Narrativa da Vida de Frederick Douglass, Um Escravo Americano”, em 1845, que
havia uma coluna de condenados que “enquanto caminhava ia compondo e cantando”.
“E o pensamento que à sua mente assomava saía pelo som, que não somente pela
palavra.” Há neste fascinante “Juneteenth” um par de temas que implicitamente
se relacionam com a citação: ‘We Shall 2’ e ‘Ask Him’. Originais que parecem
provir da coletividade e que possuem vínculo prévio na discografia do seu
autor, o primeiro em “It’s Time” (Steeplechase, 2012), o segundo em “New World”
(Galaxy, 1981). Surgem aqui igualmente em alusão à fé: um no domínio
constitucional, invocando ‘We Shall Overcome’ à luz da luta pelos direitos
civis, outro enquadrado nas promessas de redenção presentes na ficção
teológica. Encontrando-se assim “em cada tom um testemunho contra a escravatura”,
como afirmou Douglass, uma interpelação para que se solte um povo inteiro dos
seus grilhões. Em 1903, em “As Almas da Gente Negra”, W.E.B. Du Bois referia-se
a tais hinos tingidos pela mágoa dizendo que neles se passava com frequência do
desespero à esperança: “Ora se crê na vida, ora na morte. Mas o seu significado
permanece claro: algum dia, em algum lugar, os homens serão julgados pelo seu
caráter e não pela cor da sua pele.” Como se sabe, Martin Luther King Jr.
atualizou a expressão. Já este ano, precisamente a propósito da observância do
feriado do Juneteenth, foi Barack Obama a recordá-la em comunicado oficial:
“Enquanto as pessoas se odiarem por causa da cor da sua pele não podemos
afirmar que o nosso país esteja a ser fiel aos seus ideais. Mas o Juneteenth
nunca foi a celebração de uma vitória ou a admissão de que as coisas estão bem
como estão. Ao invés, celebra o progresso.” Da meditação a solo de Stanley
Cowell sobre a herança desse dia – o 19 de junho de 1865 – em que aos escravos
do Texas chegou enfim a notícia de que a sua emancipação havia sido há dois
anos promulgada por Abraham Lincoln, então presidente dos Estados-Unidos, o
mínimo que se conclui é que ela é mais matizada do que a do presidente atual: labiríntica
e ambígua, quase retrocessiva, como que procedendo ignaramente face às causas
finais da sua condição. [Foto: Janette Beckman]
João, parabéns pelo blog! Realmente incrível! :D
ResponderEliminarE você tem Soulseek? Se sim, compartilharia o nome do seu usuário comigo? O meu é pecorib.
Abraços,
Pedro