Entramos
de mansinho no camarim e damos com Céu e Dustan Gallas a ensaiar ‘Palhaço’, clássico
de Nelson Cavaquinho, Oswaldo Martins e Washington Fernandes da década de 50.
“Sei que é doloroso um palhaço/ Se afastar do palco por alguém/ Volta, que a
plateia te reclama”, canta ela, com voz de menina ensonada. Já ele, mal dá o
último acorde na sua Rickenbacker, espanta-se por a versão ter saído tão bem.
“É”, responde-lhe Céu, “a gente é foda.” Não estamos definitivamente nos anos
50. Mas o clima não será assim tão informal quanto isso: afinal, num programa
que, em DVD, se estende por 100 minutos, só uma enorme coincidência contraporia
a esses versos iniciais aqueloutros, de Bob Marley, com que a atuação termina:
“Never known what happiness is/ I’ve never known what sweet caress is/ Still,
I’ll be always laughing like a clown”. E é quando a ação se transfere para a
sala do Centro Cultural Rio Verde, em São Paulo, que, prestando atenção aos
adereços, se percebe até que ponto se acusa aqui a responsabilidade do teatro:
há palmeiras, araras de porcelana, lustres e abajures de vime sintético, uma
estátua de Iemanjá e, suspensas por detrás dos músicos, em néon, as palavras
que dão o nome ao último CD de Céu, “Caravana Sereia Bloom”. Dos 24 temas no
alinhamento, 11 provêm daí. Aliás, no filme, quiçá inadvertidamente, há um
momento hilariante em que a banda discute se terá “deixado alguma coisa
importante de fora”. Não, está cá tudo o que se precisa de saber sobre Céu e o
seu conjunto, espécie de Bad Seeds consagrados à cumbia, ao bolero, à lambada, enfim, à grande música do inferno.
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