Pega-se
no disco e lê-se: “Os nossos corpos podem permanecer na prisão, mas queremos estar
em espírito com o mundo livre.” O grupo, constituído por reclusos do Centro de
Correção de Powhatan, no estado da Virgínia, chamava-se Edge of Daybreak, e o seu
único LP, de 79, vai ser reeditado pela Numero Group daqui a duas semanas. Já
acerca do que pensa quem continua encarcerado na Prisão de Segurança Máxima de
Zomba, no Malawi, ali onde se juntam as províncias moçambicanas de Niassa e
Zambézia, nada se conhece. E foi por lá que Ian Brennan, a um continente de
distância dos Lomax, e sob o pretexto de ir administrar cursos de Resolução de
Conflitos e de Prevenção à Violência, registou este dilacerante CD. Encontrou
detidos e detidas de todas as idades, uns quase tudo ignorando da vida, a
gatinhar desde que nasceram na cadeia, outros com medo de algum dia se verem em
liberdade, demasiado velhos para cuidarem de si. Gravou gente que mal erguia a
cabeça mas que abria muito os olhos quando começava a cantar. Tentava saber porque
ali estavam, mas ficava sem o que lhes responder quando revelavam acusações
como homossexualidade e feitiçaria. Deu com uma banda masculina e com um coral
feminino, cada qual na sua metade da prisão (são cerca de 2000 pessoas num
espaço para 340), e poemas que se diriam a versão contemporânea de “Canções de
Inocência e de Experiência”, de William Blake. À guitarra ou a cappella, trazem à memória Daniel
Kachamba ou o kwela sul-africano. Em 20
temas, não há um que não dê mostras de estar corrompido pelas circunstâncias.
Do mesmo modo, nenhum é menos que crucial.
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