Dizia
ele: “Aqui e ali o meu som pode parecer um pouco áspero e rude, como se
estivesse a gritar, mas percebi finalmente que tenho de tocar exatamente da
maneira em que me estou a sentir.” Ou seja, mais que perfeição, Art Pepper
desejava projetar emoção. Neste contexto, o da descoberta de um excruciante inédito
seu, em que, a espaços, do saxofone expulsa os guinchos de um par de animais
particularmente incompatíveis e ferozes que à força enfiou numa jaula, não se
pode imaginar depoimento mais concludente. Mas a frase, e o horror ao
artificialismo que ela indicia, para não falar já da sede de evasão, é de 1957,
altura em que Art, aos trinta e pouco, já tinha feito o seu primeiro regresso
às lides profissionais do jazz. O presente registo, captado ao vivo em Nova
Iorque, no Fat Tuesday’s, a 15 de abril de 1981, procede daquilo a que se pode
chamar o seu segundo advento, após uns 15 anos a cumprir penas de todo o género,
algumas delas à letra, claro, em estabelecimentos prisionais tão (mal) afamados
como o de San Quentin. É uma fase de enorme candura, em que andava pelos palcos
à procura de tardiamente confirmar uma qualquer paternidade e de ver
reconhecida uma qualquer filiação. Nessa noite estiveram consigo o búlgaro Milcho
Leviev, ao piano, o checo George Mraz, no contrabaixo, e uma lenda local à
bateria, Al Foster. Estavam também presentes os fantasmas da sua fragilidade. Tocaram ‘Rhythm-A-Ning’ (Monk), ‘What Is This Thing
Called Love?’ (Porter),
‘Goodbye’ (Jenkins) e ‘Make A List, Make A Wish’ e ‘Red Car’, dois originais de
Pepper, a que só restavam catorze meses de vida.
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