Ao jeito de Caetano Veloso, que há 20 anos fazia chegar
às lojas um CD chamado “Livro” no momento exato em que publicava as suas
memórias, também este “Open Book” concorre com o lançamento do autobiográfico “Good
Things Happen Slowly: A Life In and Out of Jazz”. Mas há mais: Hersch regressou
na semana passada ao programa do Jazz at Lincoln Center com “Leaves of Grass”, o
espetáculo em que Kurt Elling e Kate McGarry dão voz à sua adaptação de poemas
de Walt Whitman (nomeadamente àquele que começa por “Celebro-me e canto-me/ E
aquilo que assumo tu deves assumir/ Pois cada átomo que a mim pertence a ti
pertence também”), e prepara-se a edição de “The Ballad of Fred Hersch”, o
documentário de Charlotte Lagarde e Carrie Lozano consagrado à sua vida em
ambulatório desde que contraiu o vírus do HIV (parte “Silverlake Life: The View
from Here”, sem o terrível e fatal desenlace, parte ‘Medici’, o terceiro
capítulo de “Caro diario”, de Nanni Moretti, tivesse sido Moretti pianista de jazz).
Tudo isto, bem como o título deste seu novo álbum, contribui para uma certa ideia de transparência, ou pelo menos de revelação, que também no seu caso poderá dever ao poema “Queer”, de Charles Bidart: “Para cada jovem gay que viveu a adolescência/ Na América dos anos quarenta ou cinquenta/ O dilema principal, crucial/ Permanente e constante é a saída do armário – ou não/ Ou não/ Ou não/ Ou não”. Oh, sim, diria Hersch, e mais ainda num meio artístico alimentado a testosterona, não obstante de presumida liberdade, e pese embora a sua experiência tardia (nasceu em 1955). Aliás, pelo que tem dito ao longo dos anos, naquele tempo, para o bem e para o mal, cruzar-se no circuito do jazz com um homossexual deveria ser parecido com o complexo de emoções que toma conta dos mutantes dos X-Men assim que se apercebem que há mais gente igual a si no mundo. Agora, há muito que Hersch saiu do armário, claro. Mas talvez seja verdade que esse rito de passagem nunca se traduziu tão bem, com Hersch tão solto e ao mesmo tempo tão só, ora espontâneo, ora difícil de entender (escutem-se os 20 minutos do algo grimmiano ‘Through the Forest”), invulnerável quando vacila, seguro quando se mostra mais sensível. Ouvindo-o, pensa-se mais uma vez em Whitman, que escreveu: “Nunca haverá mais perfeição do que agora”.
Tudo isto, bem como o título deste seu novo álbum, contribui para uma certa ideia de transparência, ou pelo menos de revelação, que também no seu caso poderá dever ao poema “Queer”, de Charles Bidart: “Para cada jovem gay que viveu a adolescência/ Na América dos anos quarenta ou cinquenta/ O dilema principal, crucial/ Permanente e constante é a saída do armário – ou não/ Ou não/ Ou não/ Ou não”. Oh, sim, diria Hersch, e mais ainda num meio artístico alimentado a testosterona, não obstante de presumida liberdade, e pese embora a sua experiência tardia (nasceu em 1955). Aliás, pelo que tem dito ao longo dos anos, naquele tempo, para o bem e para o mal, cruzar-se no circuito do jazz com um homossexual deveria ser parecido com o complexo de emoções que toma conta dos mutantes dos X-Men assim que se apercebem que há mais gente igual a si no mundo. Agora, há muito que Hersch saiu do armário, claro. Mas talvez seja verdade que esse rito de passagem nunca se traduziu tão bem, com Hersch tão solto e ao mesmo tempo tão só, ora espontâneo, ora difícil de entender (escutem-se os 20 minutos do algo grimmiano ‘Through the Forest”), invulnerável quando vacila, seguro quando se mostra mais sensível. Ouvindo-o, pensa-se mais uma vez em Whitman, que escreveu: “Nunca haverá mais perfeição do que agora”.
Sem comentários:
Enviar um comentário