13 de setembro de 2014

Benjamin Grosvenor: Dances (Decca, 2014)



Há duas semanas regressou aos “Proms”, e persiste a ideia de que Grosvenor procura exprimir algo acerca da sua personalidade através do repertório que elege interpretar. Passeou pela evanescente “Paisagens”, de Mompou, e estreou a sonâmbula “Day Break Shadows Flee”, de Judith Weir, peça afetada por intuições hipnológicas. E, escutando este “Dances”, em que reproduz o programa apresentado no Festival de Sintra de 2013, cedo se conclui que também por Bach se move noctambulamente. A mecânica na Ouvertüre da “Partita Nº 4” é volátil e a Allemande é quase refratária. Como na mais monumental arquitetura, o esplendor da forma no Minuete ou na Jiga praticamente obstrui a utilidade da função. Mas, como um momento de lucidez mental num amnésico, instantes há em que o pianista dá mostras de possuir consciência de tudo isto, ficando a visão de conjunto espantosamente clara. O seu Chopin não deixa nada ao acaso. O opúsculo 22 – o “Andante spianato et Grande Polonaise brillante” – lembra fogo-de-artifício em câmara lenta. E na “Polonesa Nº 5” o domínio narrativo é total: a fase de recapitulação parece dizer respeito a uma obra ouvida há muitos anos atrás. Cordiais e galantes, estão três das “Dez Mazurcas”, de Scriabin. E, nesta versão, a “Valsa em Lá bemol maior”, ainda do russo, afigura-se como a semente de qualquer coisa que viria apenas a florescer na orquestra de Duke Ellington. Uma escolha insólita: “Valsas Poéticas”, de Granados, de uma altura em que o espanhol, emigrado, escrevia a partir de teclados sem acentos. Por fim, três encores que revelam pouca maturidade e tremendas faculdades pirotécnicas. Aos 22 anos, talvez seja pelo melhor.

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