Não
se pode dizer que tivessem nascido em berço de ouro. Mas duvida-se igualmente
que gozassem de qualquer intimidade com ambientes mais favoráveis à dissensão
política. E, no entanto, na Colômbia de inícios de 70, ao cantarem “Com o
pôr-do-sol tudo termina/ Deves ser forte e não morrer tu também/ Forte e
resistir”, não se vislumbrava mensagem mais adversa aos interesses da Frente
Nacional. Isto numa melodia cuja ambição última parecia ser a de se tornar
suave como a brisa (pense-se no que, em Portugal, faziam contemporaneamente
Mini Pop, Irmãs Muge ou Techa). E tudo porque, lá está, Elia Fleta Mallol, uma
jovem de 19 anos, coadjuvada por Elizabeth, sua irmã, de 18, encontrou no mais
cativo da sua existência matéria para reescrever o livro da vida e negociar com
o que possuem os outros de mais arbitrário. Escutando hoje, nesta antologia, as
canções que gravaram entre 1972 e 1973, extraídas ao seu único par de LP, em
que as acompanhava o conjunto Onda Tres, de Jimmy Salcedo, esbarra-se num gesto
tão irredutível que se diria derivar da ação de quem desvendou os mistérios do
mundo mal abriu os olhos pela primeira vez, quando, na realidade, é o inverso
disso mesmo o que aqui se celebra. Pois é o resíduo de insubmissão que ainda se
deteta no espírito humano quando nada mais o anima aquilo que esta música
enforma. Talvez por isso, desde então, em campos de refugiados, em focos de
miséria, alienação e junto dos que sofrem à mão da tirania, se tenha Elia
dedicado a administrar cuidados paliativos a um planeta em extinção. Há 40
anos, ao precocemente compor ‘En los días en que era demasiado joven’, não
estava a fazer outra coisa.
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