27 de setembro de 2014

Elia y Elizabeth “La Onda de Elia y Elizabeth” (Vampisoul, 2014)



Não se pode dizer que tivessem nascido em berço de ouro. Mas duvida-se igualmente que gozassem de qualquer intimidade com ambientes mais favoráveis à dissensão política. E, no entanto, na Colômbia de inícios de 70, ao cantarem “Com o pôr-do-sol tudo termina/ Deves ser forte e não morrer tu também/ Forte e resistir”, não se vislumbrava mensagem mais adversa aos interesses da Frente Nacional. Isto numa melodia cuja ambição última parecia ser a de se tornar suave como a brisa (pense-se no que, em Portugal, faziam contemporaneamente Mini Pop, Irmãs Muge ou Techa). E tudo porque, lá está, Elia Fleta Mallol, uma jovem de 19 anos, coadjuvada por Elizabeth, sua irmã, de 18, encontrou no mais cativo da sua existência matéria para reescrever o livro da vida e negociar com o que possuem os outros de mais arbitrário. Escutando hoje, nesta antologia, as canções que gravaram entre 1972 e 1973, extraídas ao seu único par de LP, em que as acompanhava o conjunto Onda Tres, de Jimmy Salcedo, esbarra-se num gesto tão irredutível que se diria derivar da ação de quem desvendou os mistérios do mundo mal abriu os olhos pela primeira vez, quando, na realidade, é o inverso disso mesmo o que aqui se celebra. Pois é o resíduo de insubmissão que ainda se deteta no espírito humano quando nada mais o anima aquilo que esta música enforma. Talvez por isso, desde então, em campos de refugiados, em focos de miséria, alienação e junto dos que sofrem à mão da tirania, se tenha Elia dedicado a administrar cuidados paliativos a um planeta em extinção. Há 40 anos, ao precocemente compor ‘En los días en que era demasiado joven’, não estava a fazer outra coisa.

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