27 de setembro de 2014

Nicola Benedetti “Homecoming: A Scottish Fantasy” (Decca, 2014)


O vínculo não podia ser mais institucional. Mas o impulso, esse, vem de há muito. Afinal, Benedetti, membro da Mui Excelente Ordem do Império Britânico, crê que mostrar a sua herança cultural possui “uma relevância inata para tudo aquilo que se é”. Afirma-o numa cuidada apresentação de “Homecoming” em que, às tantas, como os políticos, fica sem saber a quem se dirigir. Isto porque, mais que diminuir o fosso entre independentistas e unionistas, a natural do Ayrshire com perfumada ascendência italiana ambiciona algo à primeira vista ainda mais imprudente: aproximar o que há muito existindo em simultâneo nunca se provou propriamente conciliável, isto é, “música clássica e folclore escocês”. A coincidência dessa imperiosa necessidade com o intervalo de tempo em que o referendo era o único assunto em cima da mesa não terá sido calculada. Nem poderá ser lida à luz de factos recentes a escolha de indumentária para a foto de capa: um vestido em xadrez concebido por Vivienne-“Odeio Inglaterra”-Westwood. Dado que, de facto, a violinista comporta-se aqui um pouco à semelhança da protagonista de “Outlander” – série televisiva que decorre em parte no período da Guerra Jacobita e que permanece conspirativamente por estrear no Reino Unido –, vagueando por um tempo que não é seu numa terra que não é inteiramente sua, mistificada por um tumulto alimentado a história e fantasia. Na peça titular de Bruch, Benedetti está bem-comportada. Nas restantes, um vendaval de rabecas, pífaros, acordeões e baladas em gaélico, está como uma menina de boas famílias cuja tendência para o palavrão leva a que toda a gente pense: ora aí está um espírito independente.

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