O
vínculo não podia ser mais institucional. Mas o impulso, esse, vem de há muito.
Afinal, Benedetti, membro da Mui Excelente Ordem do Império Britânico, crê que mostrar
a sua herança cultural possui “uma relevância inata para tudo aquilo que se é”.
Afirma-o numa cuidada apresentação de “Homecoming” em que, às tantas, como os
políticos, fica sem saber a quem se dirigir. Isto porque, mais que diminuir o
fosso entre independentistas e unionistas, a natural do Ayrshire com perfumada ascendência
italiana ambiciona algo à primeira vista ainda mais imprudente: aproximar o que
há muito existindo em simultâneo nunca se provou propriamente conciliável, isto
é, “música clássica e folclore escocês”. A coincidência dessa imperiosa
necessidade com o intervalo de tempo em que o referendo era o único assunto em
cima da mesa não terá sido calculada. Nem poderá ser lida à luz de factos
recentes a escolha de indumentária para a foto de capa: um vestido em xadrez
concebido por Vivienne-“Odeio Inglaterra”-Westwood. Dado que, de facto, a
violinista comporta-se aqui um pouco à semelhança da protagonista de
“Outlander” – série televisiva que decorre em parte no período da Guerra
Jacobita e que permanece conspirativamente por estrear no Reino Unido –, vagueando
por um tempo que não é seu numa terra que não é inteiramente sua, mistificada
por um tumulto alimentado a história e fantasia. Na peça titular de Bruch,
Benedetti está bem-comportada. Nas restantes, um vendaval de rabecas, pífaros,
acordeões e baladas em gaélico, está como uma menina de boas famílias cuja tendência
para o palavrão leva a que toda a gente pense: ora aí está um espírito
independente.
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