Atribuída
a Amara Touré, surge num livro do etnomusicólogo Wolfgang Bender esta
interrogação: “Para nós, africanos, será a música latino-americana um conceito
assim tão estranho? Creio que não. Atente-se ao samba brasileiro, à percussão,
aos ritmos da bateria. Sinto-o como parte da nossa cultura.” Podia estar a
referir-se ao “fluxo e refluxo” entre o golfo do Benim e a baía de
Todos-os-Santos, mas o seu campo de ação foi mais amplo. Nasceu na Guiné, cresceu
no Senegal e, no fecho da década de 50, como timbaleiro, ingressou na Star Band
de Dakar com o gambiano Laba Sosseh, o nigeriano Dexter Johnson e o
cabo-verdiano José Ramos. Como Amadou Balaké em relação aos Ambassadeurs, o seu
conhecimento do vernáculo rítmico afro-cubano facilitou-lhe a promoção a
vocalista, ainda que só foneticamente dominasse o espanhol. Nas lascas saídas da
Star Band, acompanhou Sosseh na Super International e Johnson na Super Star. Em
“Afrolatin: Via Dakar” (Syllart, 2011) estão três temas por si cantados, provenientes
de sessões em Iaundé, nos Camarões, quando tocava no Ensemble Black &
White, e fica claro que ninguém, nem mesmo Laye Mboup e Thione Seck na
Orchestra Baobab, se adaptou como ele à languidez desse repertório. Solta a voz
e imaginam-se pares tão agarrados, e de movimentos tão lentos, que se diria estarem
a dançar num campo minado. Esta antologia, que se reputa integral, revela mais três
canções desse período, além do LP que, em 1980, gravou em Libreville com o conjunto
Massako, em cujas fileiras havia sido admitido. Desapareceu sem deixar rasto em
meados de 90. Permanece inesquecível.
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