5 de setembro de 2015

V/A “Rastafari: The Dreads Enter Babylon 1955-1983” (Soul Jazz, 2015)



Em ‘Tales of Mozambique’ o que se escuta é qualquer coisa como isto: “Os acontecimentos de hoje transformam-se na história de amanhã/ Consequentemente, uma nação que não conheça a sua história passada é como uma árvore sem raízes”. Acompanhado pela ilustre Mystic Revelation of Rastafari, Count Ossie parafraseava Marcus Garvey. E, seguindo o exemplo de Ju Ju ou Archie Shepp, estava atento ao que se passava em Moçambique. A canção – de modo deslumbrante povoada de primitivos gritos, urros, berros e grunhidos insurretos – mostra alinhar-se com a ordem natural das coisas, forçosamente pré-histórica, pois a história, essa, como se sabe, havia saído da pena do colonizador. Por isso, a certa altura, o português que se ouve parece saído da boca da Frelimo: “A luta continua! A luta continua!”. Estava-se em 1975. Com o verão chegaria a independência e, um ano depois, em ‘Mozambique’, já Bob Dylan cantava sobre as bonitas mulheres e praias do país e, em ‘Guiné Bissau, Moçambique e Angola’, Tim Maia só vinha “Aqui para lhe dizer/ Que eles agora estão/ Numa relax/ Numa tranquila/ Numa boa”. Curiosamente, palavras que se associam aos rastafáris. É desses que a Soul Jazz se ocupa nesta antologia. De Count Ossie, claro, mas também da leitura da profecia segundo Johnny Clarke, Laurel Aitken, Ras Michael, Bongo Herman ou Ashanti Roy. Isto é, evita-se aqui o confronto com pesos-pesados (Abyssinians, Burning Spear, Augustus Pablo, Max Romeo, Dennis Brown, Gregory Isaacs, U-Roy ou, como é óbvio, Bob Marley), reforçando-se a retidão moral a que todos ambicionavam mas que poucos souberam suster.

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