Em ‘Tales
of Mozambique’ o que se escuta é qualquer coisa como isto: “Os acontecimentos
de hoje transformam-se na história de amanhã/ Consequentemente, uma nação que
não conheça a sua história passada é como uma árvore sem raízes”. Acompanhado
pela ilustre Mystic Revelation of Rastafari, Count Ossie parafraseava Marcus
Garvey. E, seguindo o exemplo de Ju Ju ou Archie Shepp, estava atento ao que se
passava em Moçambique. A canção – de modo deslumbrante povoada de primitivos
gritos, urros, berros e grunhidos insurretos – mostra alinhar-se com a ordem
natural das coisas, forçosamente pré-histórica, pois a história, essa, como se
sabe, havia saído da pena do colonizador. Por isso, a certa altura, o português
que se ouve parece saído da boca da Frelimo: “A luta continua! A luta
continua!”. Estava-se em 1975. Com o verão chegaria a independência e, um ano
depois, em ‘Mozambique’, já Bob Dylan cantava sobre as bonitas mulheres e praias
do país e, em ‘Guiné Bissau, Moçambique e Angola’, Tim Maia só vinha “Aqui para
lhe dizer/ Que eles agora estão/ Numa relax/ Numa tranquila/ Numa boa”.
Curiosamente, palavras que se associam aos rastafáris. É desses que a Soul Jazz
se ocupa nesta antologia. De Count Ossie, claro, mas também da leitura da
profecia segundo Johnny Clarke, Laurel Aitken, Ras Michael, Bongo Herman ou
Ashanti Roy. Isto é, evita-se aqui o confronto com pesos-pesados (Abyssinians,
Burning Spear, Augustus Pablo, Max Romeo, Dennis Brown, Gregory Isaacs, U-Roy
ou, como é óbvio, Bob Marley), reforçando-se a retidão moral a que todos
ambicionavam mas que poucos souberam suster.
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