McPhee
inventaria humores de modo expletivo e cospe sílabas como quem se quer ver
livre de uma mordaça. A ideia que fica é que não consegue expelir o ar dos seus
pulmões e, quando se dá por ele, o tom do seu trompete de bolso não é mais que
um silvo. Acompanha-o o contrabaixo de Jon Rune Strom, rugoso e cheio de nós,
um contorcionista feito de madeira e tripa a que se cola o som do saxofone de
John Dikeman, tão intenso que, se fosse possível apanhá-lo, numa fotografia sairia
sempre tremido. Entretanto ganha-se consciência das ruminações de Tollef
Ostvang à bateria que, passe a redundância, lembra um batedor a abrir caminho a
uma patrulha. Vão-se contando os minutos pelos dedos de uma mão e dá-se um
daqueles uníssonos que se associam mais ao culminar de um concerto do que
propriamente ao seu início (“Skullduggery” foi gravado ao vivo em junho de 2014).
Também McPhee, aos 75, depende tão pouco de rotinas que se diria estar agora a
começar a sua carreira. Noutro paradoxo, mais se enche com a música dos outros não
obstante ser apenas a sua que parece tocar. É um romântico que, em 1981, por
ocasião do lançamento de “Topology”, formulava as coisas desta maneira: “Os
músicos encerram, em si mesmos, todas as formas concebíveis, abstratas e
multidimensionais”. O escrúpulo com que procede com estes Universal Indians terá
algo a ver com isso. Ou, até, com uma qualidade que disse já apreciar: a do som
que se “torna praticamente tátil”. A meio do tema titular evoca ‘Knox’, um
fantasma de “Tenor” (1977), e é tudo tão acrecivo que de repente não se imagina
uma história do jazz antes de si.
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