Há Pärt de todas as formas e
feitios: num CD da Auvidis, por exemplo, “Psalom” possui uma interpretação
definitiva às mãos do quarteto Arditti; já a melhor versão de “Fratres” fez o
Kronos para a Elektra; do mesmo modo, será difícil de superar a leitura que
Neeme Järvi propôs das primeiras sinfonias, na BIS, ou da seminal “Collage sur
B-A-C-H”, na Chandos; outro tanto se dirá das gravações de Paul Hillier da obra
coral do estónio na Harmonia Mundi. Mas a verdade é que a evocação desta música
serve para despertar os aromas do primeiro amor. E – porque a vai lançando
desde 1984, pelo menos nesta ortodoxa variação que se diria destinada a servir
de música sacra para os super-ricos – esse perfume só na ECM se encontra. Por
isso, e fundamentalmente porque Arvo Pärt faz 80 anos na próxima sexta-feira, Manfred
Eicher visitou os arquivos e puxou o lustro a cerca de dúzia e meia de matrizes
(apenas por questões de espaço, presume-se, excluindo da sua seleção registos
tão emblemáticos como “Tabula Rasa”, “Passio”, “Miserere” ou “Te Deum”). Tem,
então, precedência no retrato a (relativa) brevidade, o que nem será a mais
feliz das ideias. Dir-se-ia, até, que o diretor da chancela alemã procurou
criar a banda-sonora para um documentário que ficou por fazer – e Pärt presta-se
a tanto, ou não tivesse o compositor espalhado peças suas por filmes de Terrence
Malick, Paul Thomas Anderson, Werner Herzog e Gus Van Sant. Quem aprecie as crises
espirituais desta simpática e solitária figura que dá mostras de ir avançando pelo
mundo de bíblia sinodal russa debaixo do braço, ou quem se emocione com Villaret
a declamar “A Procissão”, encontrará em “Stabat Mater” ou “Festina Lente” razão
para se arrepiar. [À venda dia 11]
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