15 de outubro de 2016

Andrew Cyrille Quartet “The Declaration of Musical Independence” (ECM, 2016)



Da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América inferem, possivelmente, que todos os homens são dotados de “certos direitos inalienáveis”. Isso e, claro, a premissa de que são criados iguais. Pois a verdade é que em nenhum momento deste “The Declaration of Musical Independence” se desune a energia ou dissipa a individualidade de que o quarteto de Andrew Cyrille (bateria e percussão), Bill Frisell (guitarra elétrica), Richard Teitelbaum (sintetizador e piano) e Ben Street (contrabaixo) se compõe. Aliás, escutam-se os temas do CD e vem à memória uma conversa entre Cyrille e o crítico Ted Panken, reproduzida nas notas de apresentação de um par de álbuns seus com Anthony Braxton (“Duo Palindrome”, 2004), em que o músico dizia: “É difícil explicar por palavras. Mas às vezes é possível fazermos analogias para justificar aquilo que pensamos e sentimos. Então vêm-nos à cabeça conceitos como ‘tempo líquido’ [para explicar a pulsação básica subjacente ao que fazemos]. Para mim, ‘tempo líquido’ teria a ver com água, no sentido em que detetas movimento, mas nenhuma divisão. Olha o oceano: não vês movimento? Não vês ritmo? Mas está alguma coisa separada?” É uma ideia crucial para se entender aquilo que de mais significativo tem realizado ao longo das últimas seis décadas. E, no fundo, uma aptidão que cedo fez conhecer – basta lembrar aquela milagrosa sessão com Walt Dickerson (“To My Queen”, 1962) e verificar como a influência que exercia sobre a cadência do conjunto era capaz de sugerir a atração das ondas do mar pela lua. Esse fluxo e refluxo nota-se de novo aqui, numa música que recorda ainda o tempo que Cyrille passou a tocar com bailarinos, embora, no caso, num contexto em que as suas coreografias se vissem subitamente afetadas pela ausência de gravidade. Trata-se de uma música mais espaçosa do que atmosférica, mais ilusória que concreta e, como um dia disse Cecil Taylor acerca da ação de Cyrille, mais mágica que lógica. É uma música que só quer depender de si.

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