Kate Bush, em entrevista à “Sounds”, já o lembrava:
“As baleias dizem tudo o que há a dizer sobre movimento. Imensas, robustas, mexem-se
de modo gracioso, inteligente e flexível. Pesam toneladas e parecem capazes de
flutuar. Representam exatamente o que se costuma dizer acerca da comunicação. A
sua agilidade é tão pura quanto o som que produzem, um chamamento qualquer, tão
solitário, tão triste.” Falava a propósito da sua ‘Moving’ (1978), que, como
introdução, incluía o canto das baleias tal como captado por Frank Watlington e
Roger e Katharine Payne. Também Carl Sagan, na elaboração dos discos de ouro da
Voyager, havia inserido uma dessas fitas nos fonogramas destinados a espécies
alienígenas. E em janeiro de 1979 era a vez da “National Geographic” oferecer um
flexi disc que continha os mesmíssimos sons. Por seu turno, Charlie Haden
(1937-2014), no LP do mesmo ano do conjunto que coliderava com Don Cherry,
Dewey Redman e Ed Blackwell, assinava ‘Song for the Whales’ e dizia: “Esta música
foi escrita com o devido respeito por todas as espécies de baleias, na
esperança que venham a ser protegidas pelo direito internacional.” Na respetiva
intro e outro, com o arco, levava para o contrabaixo os seus padrões vocais,
como uma jeremiada.
A 15 de agosto de 2011, no festival Jazz Middelheim, em
Antuérpia, teve, por fim, oportunidade de voltar ao tema. Apresentava-se com
uma versão renovada da Liberation Music Orchestra, a banda que havia formado em
1969 como uma “reação às injustiças que via sucederem-se pelo mundo, mais
especificamente à Guerra do Vietname e do Camboja”, conforme lembra Ruth
Cameron Haden, sua viúva. Com orquestração e direção de orquestra de Carla Bley,
dá por terminada ‘Song for the Whales’ e chega-se ao microfone: “A baleia,
aqui, representa todas as criaturas vivas. Tão preciosas, tão maravilhosas, tal
como o universo, tal como o planeta, como vocês. Não o esqueçam. É nossa
responsabilidade manter as coisas belas e admiráveis.” Fala lentamente e
nota-se a sua dificuldade em engolir. Está a ser gravado pela rádio flamenga, a
VRT. Nunca mais voltaria a tocar a canção. Agora, esse registo revela-se a
espinha dorsal de um projeto que deixou em testamento: um álbum dedicado a
causas ecológicas. Steve Swallow substitui-o no baixo, Bley dirige e
instrumentistas como Tony Malaby, Chris Cheek, Curtis Fowlkes e Joseph Daley
devolvem-lhe a palavra e despedem-se de si com um único desejo em mente: que o
mundo permaneça o lugar com que o seu líder sonhava.
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