Peter
Kember (na foto) estava cansado – tão cansado. E sem paciência nenhuma para aqueles que
lhe diziam o que fazer ou não com a sua vida. Os que – como era mesmo a canção?
– não querem “que tu e eu nos divirtamos”. Todavia, sentia um cheiro a pólvora
no ar. Tinha chegado a hora de se “pensar numa pequena revolução”. Isto, em
1988, em ‘Revolution’, um dos temas mais perduráveis que compôs para os
Spacemen 3, ainda que, na altura, até os mais conformistas trauteassem uma cantilena
de Tracy Chapman de semelhante intenção. Há um punhado de anos, ao defunto Rock
Edition, Kember, que assina como “Sonic Boom”, admitia que tinha feito as
contas e que, até hoje, tudo somado, tinha passado “uns bons quatro meses” da
sua vida a tocar ‘Revolution’. Agora, que, como Ursula K. Le Guin, terá intuído
que a revolução não é tanto uma coisa que se faz quanto outra que se sente, o
inglês vê-se celebrado como um venerável inovador e os seus desígnios enquanto
Spectrum e EAR aceites como um novo capítulo na saga daquelas libertárias
explorações sonoras com base em música eletrónica com as quais a sua geração teria
rompido. Na edição deste ano do Out.Fest dará um seminário (dia 6, pelas 15h00,
na ADDAC System, em Lisboa) e um concerto (dia 7, às 21h30, no Auditório Municipal
Augusto Cabrita, no Barreiro). Como ele, também Jamal Moss equaciona a rutura
como um facto da vida ou, de modo mais pertinente, como uma tradição entre as
demais. Talvez por isso se tenha vindo a aproximar “dos grandes do jazz de
vanguarda, dos que vieram antes de nós e fizeram noise, música industrial, spoken
word”, como afirmava à Fact. Define
parte da sua produção como “expressionismo sintetizado”, o que é igualmente uma
boa apresentação para o que faz Kember. No fundo, é um esteta de uma música de
dança que se diferencia o suficiente da maior parte da música de dança para se
parecer já com outra coisa qualquer. No Barreiro, dia 6, no Velvet Be Jazz
Club, tem uma sessão improvisada com Evan Parker, Orphy Robinson e Yaw Tembé, e
dia 8, sob o nilótico nom de plume
Hieroglyphic Being, atua na ADAO – Associação Desenvolvimento Artes Ofícios. Aí,
seguir-se-lhe-ão os Acid Mothers Temple, de Makoto Kawabata, outro que costumava
falar de revolução e que, não obstante a tese coletivista, opera ao nível da transformação
do indivíduo. Mas mais nomes na programação do Out.Fest dão mostras de
questionar toda e qualquer forma de poder: Agustí Fernández, Lê Quan Ninh e o
duo Hans-Joachim Irmler/Jaki Liebezeit são alguns deles.
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