Radicada
em Paris, a brasileira Flavia Coelho escrevia esta semana no Facebook que não
ia “baixar a cabeça perante aqueles que querem acabar com a nossa liberdade e
cultura”, mantendo em cartaz os concertos já anunciados. Neste disco, mais
concretamente em ‘Degg Gui’, dá voz a qualquer coisa que tem a ver com isso
quando, em português, canta que “Mentira traz medo e dor/ A verdade é bem mais
simples nos conectados num canal de amor” e, de forma mais evangélica, “Abre
seu coração hoje/ Ele te salvará amanhã”. Neste último verso Cheikh Lô
identifica um famoso credo do marabuto Ibra Fall, discípulo de Amadou Bamba: dieuf dieul, isto é, cada um colhe
aquilo que semeia. E é à luz desse mundo de retribuição que “Balbalou” pode ser
entendido. Por isso é com espanto que, em ‘Doyal Naniou’, venha o senegalês
(por filiação) falar de Thomas Sankara, Laurent-Désiré Kabila, Robert Guéï,
William Tolbert, Moussa Traoré ou Nino Vieira enquanto “vítimas de assassinato”,
não tanto enquanto revolucionários, para concluir que, em África, e demais
paragens, “Já chega de golpes de Estado”. Na última estrofe da canção é Oumou
Sangaré a reclamar “Paz em Casamansa/ Paz no Mali/ Baixem as armas”. Como é
óbvio, precisamente o mesmo assunto de ‘Baisson les armes’, depois de Lô chamar
a atenção para “Ucrânia, Rússia, Síria, Afeganistão, República Centro-Africana”
e deduzir que palavras, leva-as o vento. Florbela Espanca dizia o mesmo das
cantigas, e aqui são as de amor – incluindo uma versão de ‘Suzana Coulibaly’,
de Sam Mangwana – que se revelam politicamente mais lúcidas. Felizmente estão
em maioria.
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