21 de novembro de 2015

Nate Wooley Quintet “(Dance To) The Early Music” (Clean Feed, 2015)



Na última “Sound American”, publicação de que é editor, Nate Wooley discorre sobre hábitos de audição e conta a seguinte história: “Os meus pais compraram-me a minha primeira aparelhagem tinha eu doze anos: gira-discos, rádio e leitor de cassetes embutidos num armário com revestimento a imitar carvalho e duas colunas que eram praticamente do meu tamanho. A lágrima de nostalgia que me corre pela face à sua lembrança dirá mais sobre mim do que alguma vez poderá dizer o texto que se segue.” Agora, que edita uma gravação inspirada por LP que nessa altura repetidamente escutou – o homónimo inicial mais “Black Codes” e “J Mood”, todos de Wynton Marsalis –, percebe-se que a sua evocação serve ainda para que se ponha a suspirar por esse lugar e tempo remotos. Isto é, porque Wooley é o primeiro a reconhecer o manifesto antagonismo de Marsalis face à música que cria, este novo álbum do seu quinteto com Josh Sinton, Matt Moran, Eivind Opsvik e Harris Eisenstadt “não é uma homenagem”, “não é um comentário pós-moderno”, “não é irónico”, “nem é uma afirmação sociopolítica”. Daí notas de apresentação que de tanto tresandarem ao divã de um psicoterapeuta trazem à ideia o começo de “O Homem Que Confundiu a Mulher com Um Chapéu”, de Oliver Sacks: “A palavra predileta da neurologia é défice: perda da fala, perda da linguagem, perda da memória, perda da destreza, perda da identidade (...).” Também Wooley diz tudo aquilo que o seu disco não é. Mas a que se resume, então? Quiçá à confirmação de que não se volta a ter doze anos nem a ver o mundo bem daquela maneira – e à reação a esse sentimento.

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