Na
última “Sound American”, publicação de que é editor, Nate Wooley discorre sobre
hábitos de audição e conta a seguinte história: “Os meus pais compraram-me a
minha primeira aparelhagem tinha eu doze anos: gira-discos, rádio e leitor de
cassetes embutidos num armário com revestimento a imitar carvalho e duas
colunas que eram praticamente do meu tamanho. A lágrima de nostalgia que me
corre pela face à sua lembrança dirá mais sobre mim do que alguma vez poderá
dizer o texto que se segue.” Agora, que edita uma gravação inspirada por LP que
nessa altura repetidamente escutou – o homónimo inicial mais “Black Codes” e “J
Mood”, todos de Wynton Marsalis –, percebe-se que a sua evocação serve ainda para
que se ponha a suspirar por esse lugar e tempo remotos. Isto é, porque Wooley é
o primeiro a reconhecer o manifesto antagonismo de Marsalis face à música que
cria, este novo álbum do seu quinteto com Josh Sinton, Matt Moran, Eivind Opsvik
e Harris Eisenstadt “não é uma homenagem”, “não é um comentário pós-moderno”,
“não é irónico”, “nem é uma afirmação sociopolítica”. Daí notas de apresentação
que de tanto tresandarem ao divã de um psicoterapeuta trazem à ideia o começo de
“O Homem Que Confundiu a Mulher com Um Chapéu”, de Oliver Sacks: “A palavra predileta
da neurologia é défice: perda da fala, perda da linguagem, perda da memória, perda
da destreza, perda da identidade (...).” Também Wooley diz tudo aquilo que o
seu disco não é. Mas a que se resume, então? Quiçá à confirmação de que não se
volta a ter doze anos nem a ver o mundo bem daquela maneira – e à reação a esse
sentimento.
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