Porque de repente parece tão
injustamente redutora, e à luz de acontecimentos recentes tão impiedosamente irredimível,
a dedicatória custa a ler. Mas, lá está, trata-se de conjugar a resistência
possível ao que a arte e a vida possuem de mais evanescente para
simultaneamente o aceitar. Escreve, pois, John Taylor: “Kenny, meu velho amigo.
Soas tão vivo e vigoroso e brilhantemente criativo nesta música que gravámos há
uma década. As novas peças eram belíssimas e a maneira como as tocavas de
cortar a respiração. Devia ter-te perguntado como o fazias. Só queria que
pudesses estar agora a meu lado a ouvi-las comigo”. Isto porque, atrás de
Wheeler, que se tinha ido há um ano, foi-se Taylor em julho, estava já este
disco no prelo. Seja como for, é possível imaginá-lo a sorrir quando, mais à
frente no depoimento que o livreto do CD reproduz, diz: “Recordo-me que na
altura não ficámos lá muito convencidos com os resultados da sessão. Mas connosco
costumava ser esse o caso.” De facto, como admitir sem dificuldade que, ao fim
de um dia de trabalho como outro qualquer, se produziu algo que dá mostras de
concentrar toda a memória de uma vida num instante, para, no outro a seguir, ou
assim é dado a entender, logo consentir com o seu total esquecimento? Só rindo
mesmo. Aliás, porque o cantor admirava o que faziam nos Azimuth, e sob a égide
de Kundera, chamava-se ‘Laughter & Forgetting’ a pérola de David Sylvian a
que foram os dois puxar o lustre em meados dos anos 80. Aí, como aqui, em
contacto imediato com aquela fronteira que faz das coisas o que realmente elas
são. Então e para sempre.
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