Como
dizia Johnny Mercer em ‘Too Marvelous for Words’, há coisas que são “tão, tão”
que nem o dicionário Webster lhes encontra definição. A palavra brazen, felizmente, está lá: “Feito de bronze
ou latão; derivado de metais de modo a transmitir impenetrabilidade; comportamento
insolente ou descarado.” Basta passar umas horas na sua companhia para
comprová-lo, realmente Dave Douglas tem muita lata, que não, apenas, aquela de
que a sua trompete é feita. É também um cuidadoso concetualista cujas ações,
aos olhos dos mais cínicos, poderão indiciar uma cedência ao calculismo. Quanto
a isso, por ser de uma seriedade a toda a prova, chegam uns minutos a seu lado para
que a ilusão se desfaça. Em 2005, por ocasião de um concerto em Lisboa no qual apresentaria
“Mountain Passages”, consagrado à memória do seu falecido pai e escolhido para
estrear esta sua Greenleaf, questionava o potencial oportunismo da edição.
Respondi-lhe que sim, desde que ele me identificasse o conjunto específico de
circunstâncias de mercado com o qual transigia ao lançar aquela insólita música
para clarinete, tuba, violoncelo, trompete e bateria. Quando não se lembrou de
nenhuma sugeri-lhe que oportunista seria não ter editado um disco
absolutamente pessoal. Dez anos depois, blindado pela fortaleza de um quinteto
mais convencional mas não menos superlativo (com Jon Irabagon, Matt Mitchell,
Rudy Royston e Linda Oh), e desta feita dedicado ao seu irmão, vítima de cancro
em junho último, é capaz de ter produzido o seu disco mais pessoal de sempre,
todo ele engenho e instinto, fragilidade e força, cabeça e coração.
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