29 de novembro de 2014

Hailu Mergia and The Walias “Tche Belew” (Awesome Tapes From Africa, 2014)



Complicavam-se as coisas em disputas territoriais com a Eritreia, mas também é verdade que pela Adis Abeba de finais dos anos 90 se tornava a respirar: reabriam-se fronteiras, relaxava-se o controlo alfandegário, recebiam-se estrangeiros e expulsava-se da memória a repressão política no regime dos Derg, a repreensão nas artes, o recolher obrigatório. Daí, então, escrevia Francis Falceto um capítulo a transbordar de otimismo para o antológico “Rough Guide: Africa, Europe and the Middle East” em que falava da singularidade da música etíope por meio de uma metáfora: “A sua característica mais significativa é recorrer a uma escala pentatónica com intervalos irregulares: é como atirar uma pedra para um poço para ouvir o som que faz ao cair na água e, depois, não haver barulho nenhum.” Podia ter dito que é como tentar dançar a valsa depois de mascar qat que não seria mais críptico. Por isso, a sua coleção, a Éthiopiques, veio facilitar a vida a muita gente. E ao 13º volume, em 2003, punha em pratos limpos uma importante questão: ‘Musicawi Silt’, o magnético tema que, desde 1998, promovia um novo esperanto através de versões de Daktaris, Antibalas ou Secret Chiefs 3, era um original da Walias Band, extraído a “Tche Belew”, um LP de 1977. Mas foi preciso outra década para se descobrir que Hailu Mergia, líder do conjunto, estava há muito longe de casa, a trabalhar como taxista na cidade norte-americana de Washington. Brian Shimkovitz, do blog e editora Awesome Tapes From Africa, contou a sua história quando, em 2013, lhe reeditou “Shemonmuanaye”. E agora acrescenta-lhe um capítulo crucial: este manifesto de felicidade e fantasia em que participa Mulatu Astatke, um clássico em qualquer escala pronto a devolver a luz à noite dos tempos.

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