29 de novembro de 2014

Jason Moran “All Rise: A Joyful Elegy for Fats Waller” (Blue Note, 2014)



Em fevereiro de 2013, em entrevista ao Expresso, Jason Moran dizia que “no jazz, em termos formais, uma dimensão fundamental é a que permite a revelação de estilistas. As versões (…) podem dizer-nos mais sobre o virtuosismo de quem adapta do que de quem compôs.” É uma premissa indispensável para se apreciar esta sua homenagem a Thomas “Fats” Waller (1904-1943), feita em colaboração com Meshell Ndegeocello, mas, também, quanto baste para que se compreenda que, aqui, nem sempre se vislumbra inteiramente à imagem de quem – ou à luz dos valores de que época – é que o material está a ser recriado. De Waller, que se fosse um texto estaria constantemente a negrito, cá estão algumas táticas de choque, um descuido algo calculado, os dramáticos gestos, aquela indecorosa e incondicional entrega à hipérbole. Mas falta, por exemplo, o sentido de aventura – na verdade, era quase um desporto – que impunha às suas próprias rotinas. Era divertido, mas herético. Gostava de apanhar de surpresa os temas de que era autor, enquanto, de sobrancelha arqueada, ia interrogando continuamente uma audiência que parecia antecipar todos os seus movimentos: “Vocês têm a certeza que já conhecem esta?”, perguntava, trocando as voltas a ‘Ain’t Misbehavin’’, ‘Honeysuckle Rose’ ou ‘Jitterbug Waltz’. Comportava-se como se fosse o criador de uma música imoral, mas não era desprovido de vida interior nem apenas um talentoso populista. Acima de tudo, à custa de tanta audácia, invenção e malícia, cultivou um estilo quase autónomo. Moran sabe que a paródia pode ser um tipo de extrema-unção. Mas não faz mais pelos vivos um discurso que em tudo toca e a nada efetivamente adere.  

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