Nem todos, na altura, apreciariam a diferença entre o
extraordinário e o exótico. E menos ainda entenderiam o alcance de tamanho ato
de imaginação: este que, embalado pelo jazz que melhor abraçou a potência
transformadora da utopia, lançava novamente à deriva entre Capricórnio e Câncer
aquele ‘país tropical’ que a prisão domiciliária congelava a sul. Em teoria, outra
coisa não unia os destinos destes dois pianistas brasileiros num momento em que
de um muito se sabia e de outro quase tudo se estranhava. Isso, claro, além do
facto de se estarem a estrear em novas editoras – o primeiro na Warner, o
segundo na Tabu – e a deixar mimar pela imprudência orçamental dos respetivos
gestores. Não surpreendem, assim, os nomes de membros dos Crusaders ou dos
Earth, Wind & Fire ao lado dos de Randy Brecker ou Harvey Mason na ficha
técnica de “Love Island” (1978) mais do que os de Lee Ritenour, Victor Feldman,
Buddy Collette ou Dorothy Ashby na de “Manifestations” (1979). Mas aqui, na
verdade, até as capas se diriam morfologicamente comunicantes: o colibri de uma
rumando aos lírios da outra; a visão que faltava ao cego Fest adotada nos
carpelos das flores de Deodato. O resto é simples: nada mais, nada menos, do
que o resultado de uma prática diária que foi sinónimo do verbo sonhar.
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