Jordi Savall, Pedro Estevan
A Galiza, descreve-a Carlos Villalba Freire como um lugar eternamente
suspenso entre o sonho e a realidade. Talvez por o galego, conforme sugere num
cancioneiro dos anos 70, ansiar sempre “outra coisa”. Jordi Savall, apresentando
este projeto para rabecas, arrabis e percussão, identifica-a como a expressão de
uma “insólita forma de insularidade”, como “uma grande ilha, de qualidades muito
arraigadas”, e também ele procura essa “outra coisa”. A começar pelo título, que,
do Jardim das Hespérides a Orfeu, foi buscar à Grécia antiga. E ainda que comunique
com um primeiro tomo gravado há 20 anos, o que pretende agora confirmar é um
caráter de exceção. Ou seja, nada, aqui, dá mostras de participar da diáspora
mediterrânica em que mergulhava o volume precedente, isto é, coisa nenhuma é
declaradamente hispânica, apesar de se incluírem algumas das “Cantigas de Santa
Maria”, de Afonso X, entre esta coleção de “cantos
da terra, cantos de ciegos, cançãos d’embalar, danzas y bailes”. Mas até o
que se pressupõe uma decantação de música galaico-portuguesa, trovadoresca,
sefardita ou árabe surge como a rude manifestação de uma índole pré-céltica misteriosamente
embrulhada em bruma. É natural. Afinal, Savall acaba de renunciar ao Prémio
Nacional de Música espanhol. E, em carta aberta, coassinada por José Carreras
ou “Pep” Guardiola, defendeu o direito dos catalães à autodeterminação. Por
essas e por outras, no tricentésimo aniversário da Guerra da Sucessão
Espanhola, inseriu ‘Catalunya en altre
temps, ella sola's governava’ num programa a que chamou “Guerra e Paz”. Com
Savall, o passado mantém-se absolutamente contemporâneo.
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