1 de novembro de 2014

Takemitsu; Debussy; Gubaidulina (ECM, 2014)




Tre Voci


Na capa do CD propriamente dito, situa-se numa posição de deliberada ambiguidade. E nem a leitura do livreto o esclarece: afinal, a que se refere este Tre Voci? Com certeza ao trio da violetista Kim Kashkashian, da flautista Marina Piccinini e do harpista Sivan Magen, que se apresentam sob essa designação no circuito camerístico internacional. Ou, quiçá, segundo um costume igualmente admitido, ao triângulo constituído pelos três compositores invocados. Seja como for, dá que pensar. Pois logo se instala uma persuasiva sugestão numerológica: a que reconhece a indissolúvel unidade de qualquer tríade. Nessa perspetiva, faz sentido aqui falar-se da completação de um ciclo, ainda que subordinado ao tema da incompatibilidade entre o Homem e o espaço que o rodeia. Temos o orientalista Debussy, que escolheu “A Grande Onda de Kanagawa”, a famosa xilogravura de Katsushika Hokusai, para ilustrar a publicação da partitura de “La Mer”, e Takemitsu, que, pouco antes de morrer, escreveu que desejava “nadar num mar que não tivesse leste nem oeste”, e Gubaidulina, que, um dia, disse ser o “local onde o Oriente encontra o Ocidente”. Do francês, temos a “Sonata para Flauta, Viola e Harpa” (1915), do japonês, “And then I knew ‘twas wind” (1992) e, da tártara, “Garten von Freuden und Traurigkeiten” (1980): três peças elípticas, permeadas de silêncios, sem orientação nítida, que se diriam feitas de fragmentos importados dos mais remotos lugares, não fosse tão clara a insinuação de que copiam a fluidez da natureza e da poesia. São uma espécie de paisagem em transe e partilham do mesmo destino: permanecer misteriosas.

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