Sim,
somos água. E, já cantava Yoko Ono, “haveremos um dia de evaporar em conjunto”.
Na altura, entre a década de 60 e a de 70, escorava-se a própria ideia de
absoluto na mais abstrata das construções humanas: uma canção, aquilo que, de
acordo com a célebre formulação de Cortázar, simbolizava para a música o que um
conto representava para a literatura, ou seja, o que de mais efémero se
encontra na permanência. E, nesse circuito entre o mundo visível e o invisível,
plasmava-se a transitoriedade das coisas mas também o que de mais constante possuíam
graças à combinação de figuras que se diriam em tudo antagónicas (Nixon e Mao, Eldridge
Cleaver e a Rainha de Inglaterra, etc). De modo crucial, sentia-se o gosto
pós-moderno em apresentar uma teoria unificada da existência através do que era
literalmente uma solução. Enquanto notáveis improvisadores, Tony Malaby,
William Parker e Nasheet Waits – o trio Tamarindo – não são estranhos a tais conceções.
E no seu terceiro disco – o segundo neste formato, já que em “Live”, uma
gravação de 2010, eram acompanhados por Wadada Leo Smith – parecem vir sublinhar
esse fundamental postulado: que nenhuma projeção da mente denota características
definitivas. Ou, melhor, que a arte é a expressão final desse fluxo ininterrupto
de êxtases e tragédias. Conseguem-no a partir dessa igualitária premissa: de
que fazem já parte de um só corpo, de que o vínculo que os une é contínuo. Isto
é, procedem de uma posição de abandono, de aceitação incondicional do outro, de
um ponto praticamente exterior ao da criação tal como a entendemos. “Somos
Agua” não é mais que a força que lhes sustenta tamanha convicção.
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